É preciso falar sobre emendas impositivas no Maranhão

A liberdade é um valor muito caro em nossa democracia. Quando a população elege seus representantes, ela outorga muito mais do que um cargo de representação. As pessoas que acompanham nossas andanças no Maranhão convivem com realidades muito desfavoráveis, e o braço dos governos em todos os estados muitas vezes é insuficiente para que se crie uma referência, um link direto entre o chefe do Executivo e aquele cidadão da ponta. Ah, vivemos em um estado tão pobre que seria ilusório imaginar que a maioria de nossos irmãos e irmãs entendem o que é tripartição de poderes ou do que se trata de harmonizá-los!  As pessoas querem realizações!  Quem não tem água na sua torneira, quem convive com a poeira na porta de sua casa, quem não tem médico no posto de saúde do seu povoado, estas pessoas não querem conhecer os agentes responsáveis. Elas querem apenas respostas às suas demandas.

Os papéis de prefeito, de vereador, de deputado, de governador, muitas vezes se fundem como um único grande culpado, especialmente sob os olhares de quem não compreende as prerrogativas constitucionais. Apenas uma visão elitista das coisas e fatos poderia achar algo diferente do que falo agora. O povo, quando vota, deseja resultados concretos e não mais ideologia pura e simples. A fragmentação da imagem dos políticos não é resultado de escândalos recentes, mas sim de um acumulado de desgastes ao longo dos nossos anos pós-redemocratização. Prometemos muito e cumprimos cada vez menos. Os recursos públicos têm-se escasseado e aplicá-los corretamente cada vez mais é preciso. Fazer as ações chegarem até a ponta é indispensável.

O Orçamento Público compreende as receitas que um Governo estima arrecadar e a previsão de despesas que serão realizadas em um determinado exercício financeiro. A cada ano, o Congresso Nacional avalia as previsões do governo, discute-as e, posteriormente, aprova a Lei Orçamentária Anual, documento que guiará a aplicação dos recursos. O Brasil adotava o modelo de orçamento autorizativo, que indica ações predeterminadas para a aplicação dos recursos. Não havia, assim, obrigatoriedade direta no aporte de recursos, os quais podem ser contingenciados em determinadas situações, em respeito ao disposto na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Em março de 2015, porém, o Congresso Nacional promulgou a Emenda Constitucional nº 86, que alterou os arts. 165, 166 e 198 da Constituição Federal para obrigar o Governo a executar as emendas parlamentares aprovadas pelo Congresso no Orçamento Anual. Tal prática foi denominada orçamento impositivo. Essas emendas são os recursos indicados por deputados e senadores para atender a obras e projetos em suas bases. Em 2019, aprovou-se ainda a PEC das chamadas “emendas de bancada” impositivas para grandes obras nos estados. O orçamento impositivo, desde então, tem sido um divisor de águas no restabelecimento da harmonia da relação entre o Executivo e Legislativo, pois na época do orçamento 100% autorizativo, as emendas parlamentares eram utilizadas de maneira irrestrita como instrumento de troca e amordaçamento do Poder Legislativo. No Brasil, onde não há um claro entendimento da ação de cada agente público, a população associa a quantidade de obras e serviços públicos “carimbada” por cada parlamentar como um atestado de trabalho concreto do mesmo aos olhos da população. É inimaginável uma visita de um parlamentar eleito a uma cidade do Maranhão no período da reeleição onde ele possa voltar em um palanque pedindo votos sem nada ter apresentado àquelas pessoas nos 4 anos de mandato. A certeza do pagamento das emendas tem facilitado o trabalho e a independência da Câmara, que não depende de acordos com o Executivo Federal para poder direcionar ações e recursos às bases que apoiaram e acreditaram em cada deputado.

Aqui no Maranhão, não restam dúvidas quanto ao sucesso do Governador Flávio Dino na condução de políticas públicas e na capacidade de dialogar de maneira republicana com o parlamento estadual. O sentimento da classe política no estado é o da necessária continuidade deste grupo e do aprimoramento da relação institucional entre os poderes. A reprodução do instituto das emendas impositivas em nossa Constituição Estadual vai fortalecer o Poder Legislativo, conhecedor profundo das necessidades dos maranhenses nos rincões do estado e garantirá, aos representantes eleitos pelo povo, o justo reconhecimento do seu trabalho nas centenas de municípios, elevando a um novo patamar a harmonia entre Legislativo e Executivo, cada vez mais em sintonia com os ideais democráticos no Maranhão.

O caminho do PDT em 2020

O PDT paga o preço dos vitoriosos nas eleições de São Luís. Só que vencer uma eleição é uma coisa, governar é outra. Peguemos o caso do atual prefeito, que se reelegeu em um pleito dificílimo contra um candidato de elevado controle emocional e discurso fácil, que se transformou no deputado mais votado da cidade. Hoje, este Eduardo Braide desponta como franco favorito nas eleições, porém a história já mostrou “bichos-papões” que nascem do sentimento antissituação e que, confrontados com uma nova leva de candidatos, terminam sendo desmistificados e desidratam. Eduardo é o favorito? Sem sombra de dúvidas. Ele é imbatível? Jamais!

​Um dos pilares de enfrentamento desta eleição será a avaliação do legado do PDT na cidade. Mesmo com um prefeito filiado à sigla, só é possível ao partido assumir os resultados das pastas que lhe cabem. A verdade é que há muitos anos o PDT não lidera as principais políticas públicas na capital. Crises financeiras atravessamos, porém isso não pode ser desculpa. O enfrentamento de algumas questões cruciais como transporte, folha de pagamento, custeio de máquina, aumento de arrecadação não foram feitos. Quatro anos de Castelo, 6 anos de Edivaldo colocaram o partido em posições secundárias, pois a maioria das secretarias-chave abrigam uma maioria de não-políticos. O pedetista que se destaca hoje na gestão Edivaldo é o Ivaldo Rodrigues, com a excelente feirinha do centro. E praticamente para por aí…

​A Imprensa insiste em dizer que nossos candidatos não têm condições de crescer no pleito; seja Osmar Filho, que é presidente do legislativo municipal ou o deputado Yglésio, autor deste texto, que foi o sexto estadual mais votado na cidade e que tem um histórico considerável de serviços, especialmente na saúde. Osmar tem buscado modernizar a Câmara Municipal. No caso do autor do texto, este tem atuado na modernização da Assembleia e obtido êxito na implantação de um trabalho Legislativo extremamente técnico. Em pesquisas de opinião recentes, ambos os pré-candidatos pedetistas pontuam aquém do que gostaríamos, mas se tem algo que as eleições de São Luís ensinam é que, mais importante que pesquisas muito distantes do pleito, é fundamental um perfil de candidato que agregue coragem, conhecimento e responsabilidade, sem esquecer do carisma. Sabemos que cresceremos.

​Outro ensinamento histórico é que os ilusionistas e atores de picadeiro que costumam largar na frente são desmascarados no curso do processo; seja nos debates ou nos fóruns de discussão perante a classe política, permitindo ao povo separar joio do trigo. Ter 20 ou 30 pontos em uma pré-campanha onde o nível de conhecimento das pré-candidaturas é pequeno, distancia os coelhos na corrida inicialmente, mas algo que tem sido muito claro é que as tartarugas, com consistência e passos firmes, terminam vencendo as competições. Dino com 2% em abril de 2008, Edivaldo com 2% um ano antes da eleição de 2012, Witzel no Rio com 1% em agosto de 2018, Haddad iniciando com 2% em 2012 em São Paulo. Em comum, todos desacreditados na largada… ao final, quase todos vitoriosos. Neste momento, imperioso é respeitar a grandeza do PDT de Jackson e de Brizola em São Luís. Estamos no jogo, sabemos jogar e jogamos sempre pra vencer!

A medalha da discórdia e a liberdade de expressão

Hoje, a Assembleia Legislativa concedeu a medalha de mérito cultural João do Vale ao cantor maranhense Bruno Shinoda, indicada pelo deputado Adriano, porém aprovada por toda a Casa. Tive a oportunidade de presidir parte da sessão de entrega, a pedido do proponente da homenagem. Certa vez,  assisti um show do autoproclamado “Imperador”; confesso que não faz parte da minha preferência musical, mas também nada que eu seja contra ou critique.

Evoluí muito como pessoa no sentido de não criticar nenhum estilo, afinal a musicalidade guarda em si um sentido bem amplo. De tanto escutar Juliana cantando e ouvindo sertanejo, confesso que até gosto de alguns, mas vamos ao ponto. Tenho uma assessora que admiro muito, tanto pelo intelecto quanto pela personalidade forte, a Mylla, que postou logo que soube da homenagem uma crítica bem ácida em seu Twitter. Foi aplaudida e bombardeada por várias pessoas.

Outro assessor meu, muito querido, o Pedrinho postou uma foto no Twitter favorável à medalha. Alguns seguidores do deputado Adriano inclusive me criticaram sem eu nem ter-me manifestado; alguns vieram me marcar na publicação da Mylla pra que eu intervisse como se fosse dono da opinião dela. Acredito que ela não xingou ninguém e nem argumentou contra a pessoa do deputado, que é um colega que gosto bastante, inclusive, apesar de algumas vezes termos embates em plenário, por conta das opiniões divergentes.  

Por falar em divergências, Adriano e César outro dia fizeram o maior escarcéu por conta de uma medalha que eu quis oferecer ao Sr. Sasakawa, que já investiu mais de 200 milhões de dólares na luta contra a hanseníase no mundo, mas tudo bem, águas passadas. Olhamos pra frente e respeitamos as opiniões das pessoas, mas respeitamos mais ainda o direito destas expressa-las, desde que não utilizem ofensas.

Tenho muito orgulho da minha assessoria e deixo-lhes muito tranquilos pra expressarem suas posições pessoais, afinal a Assembleia Legislativa e o povo do Maranhão lhes pagam pra realizarem seus trabalhos com dedicação (e o fazem com brilhantismo), mas nunca pra lhes dobrar a liberdade e calar suas consciências. Se nós políticos somos avaliados o tempo todo, os músicos precisam estar preparados pra críticas quanto ao seu trabalho. Na minha equipe, tem fã do Shinoda e há quem odeie o trabalho dele, mas tem acima de tudo, liberdade de pensamento e expressão!

Segue o baile!!!

O surpreendente encontro da água e do óleo

Que fique claro: sou um admirador do governador Flávio Dino. O verbo “admirar” vem do latim ad-, “para”, mais mirare, “olhar”. Olhamos para alguém com admiração porque temos a aprender de certa forma com esse alguém. Acontece que admiração não é um cheque em branco e muito menos um sentimento que valida todas as ações de uma pessoa.

Digo isso a dois públicos: o primeiro, formado por algumas pessoas queridas, que sempre me aconselham a pular pro barco da oposição a este governo, que felizmente aguenta resiliente e segue firme no deserto árido da crise nacional. Estas alegam que é mais fácil aparecer na mídia batendo no Executivo. Deixo-lhes claro que não entrei na política pra ganhar espaço com demolição de reputações e legados alheios. O segundo é o da nossa própria base, heterogênea, onde coexistem adversários de projetos políticos que adorariam propagar tese diversa da que levanto, objetivando desgastar-me com o governo, algo impensável no horizonte posto. A esses, digo: não conseguirão. Sou parceiro no projeto, mas ressalto que nunca fui e jamais serei vassalo no território livre das ideias.

É inegável que Flávio é o melhor quadro maranhense na atualidade e que tem sido capaz de gerenciar a máquina burocrática nesta caminhada de incertezas quanto à estabilidade democrática e à reação da macroeconomia. Contudo, uma das qualidades principais de um líder é a coerência e a caminhada de um líder político sempre gera fatos políticos. Assim, para que um fato tenha coerência, precisa apresentar uma sequência que dê um sentido lógico a quem o observa, de forma que não haja contradições ou dúvidas. Dino tem sido coerente em seus 5 anos de governo, mas nesta última semana, sou obrigado a discordar da forma que se deu o encontro com o ex-presidente José Sarney.

Nunca fui dos detratores da figura do Sarney aqui no estado. Sempre o considerei um homem inteligente, acima de tudo alguém que soube navegar de maneira extremamente oportunista nos diversos barcos que já viajou. De presidente do ARENA a garantidor dos governos de Lula e Dilma no Congresso Nacional, José Ribamar foi o ator mais movediço da história política da segunda metade do século XX e do começo do séc. XXI. Como parlamentar, teve um papel importante na criação da política de cotas raciais e na distribuição gratuita de remédios para portadores de HIV. Em sua acidental presidência da República, onde hiperinflação e corrupção o tornaram desastrosamente impopular, foi menor. Ainda assim, com essa carga de contradições, foi a figura maranhense mais conhecida na política até o momento.

O fato é que Sarney envelheceu. Aos 89 anos, com a força física diminuída e a saúde fragilizada, demonstra há pelo menos 4 anos um indiscutível afastamento do centro do poder em Brasília, aceitem ou não os saudosistas. No impeachment de Dilma, sua articulação, outrora infalível, não foi capaz de segurar o animus do PMDB no processo de ruptura com o PT. Já o enfraquecimento do grupo no estado foi um processo marcado pela fadiga de Roseana junto à classe política, à população e da incapacidade de Sarney Filho assumir o protagonismo familiar.

Rememorando a hierarquia de “O poderoso chefão”, Sarney passou da figura de “Don” à de “Consigliere” e hoje se concentra muito mais na manutenção de sua saúde do que na condução dos destinos políticos estaduais e federais. Importante destacar que se não está ainda albergado na macroestrutura do governo Bolsonaro, é justamente por este ocaso, fruto do desgaste perante à opinião pública e à própria senescência. A natureza do escorpião nunca muda. Se chamado fosse por Jair, com Bolsonaro Sarney estaria. Essa tem sido e sempre será sua práxis.

No processo político, nenhum homem ascende ao poder sozinho. Mesmo Jesus Cristo, em sua caminhada, seguiu com 12 apóstolos que lhe assistiram em momentos difíceis da jornada. Flávio Dino, carne, osso, acertos e erros, não rompeu um ciclo político de atraso no estado sozinho. Foi o somatório de forças de atores coordenados, com diferentes matizes ideológicas que lhe ascendeu aos Leões. É o governador que agregou em torno de si a maior base já vista em nossa história local recente, composta por parlamentares que utilizam como referencial teórico antitético na tribuna a luta contra o ciclo oligárquico do Sarney no estado.

Como ficarão os discursos agora? Qual a rotina retórica daqui pra frente, após relativizar-se as práticas da oligarquia em nome de um suposto referencial democrático que o ex-presidente do nada passou a representar? A real democracia pressupõe condições sociais, econômicas e culturais que permitem o exercício livre e isonômico da autodeterminação política. Isso em algum momento foi encampado por Sarney, na prática, em algum tempo? Questiona-se aqui sua legitimidade como referencial democrático. Sob a ótica de estandarte oligárquico, seu protagonismo é indiscutível.

Lembro da cascata de erros de Lula na política, desde seu primeiro mandato presidencial, que culminaram com sua prisão por parte das próprias forças que ele alimentou por anos. Recordo-me das concessões que fez e que lhe custaram não apenas um terceiro mandato, mas a própria liberdade, a morte da esposa, a distância da família. Valeu à pena essa coalizão democrática carcomida, que resultou na ascensão da quimera autoritária chamada Jair Bolsonaro?

Será que Flávio apresentar sua avaliação do momento atual a José Sarney serve para algo que não seja ressuscitar, mesmo que por breve período, o ícone de um grupo que merece ser página virada? Que Flávio não seja como Lula e que não lhe tenha como exemplo de escolhas, pois desejo ao governador a Presidência, jamais o fatídico destino do petista … quanto aos companheiros e companheiras de Parlamento que efusivamente reverberaram, em uníssono, este encontro inusitado, enevoado, como a salvação do Maranhão, reitero: jamais baterei palmas pra isso. Não por não ser do diálogo, mas por achar que não há sentido em repetir os mesmos erros, tentando as mesmas ações e composições com as mesmas pessoas, afinal, água e óleo não se misturam, mas a História, esta sim se repete…

A saga dos coelhos e tartarugas

Ariano Suassuna dizia que “o otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”. A descontar dos idos de 2004 a 2009, passei toda minha vida aqui em São Luís e uma das coisas que me fizeram querer voltar e  inserir-me na política foi a certeza de que a cidade precisava de pessoas com vontade de tirá-la dos anos de atraso que se acumularam, mas com atenção à realidade e resilientes a ponto de não desanimar com a dimensão dos problemas.

             Acompanhando, inicialmente de longe, essa pauta da retirada dos cobradores de 20% das linhas de ônibus, lembrei de uma fábula de Esopo: a do coelho e da tartaruga.  Toda vez que temos um assunto que realmente merece uma atenção maior, por tratar de problemas estruturantes, existe também na política, uma proliferação cada vez maior de coelhos e uma quase extinção das tartarugas.

            Explico: é inegável que o avanço tecnológico chegou com força nos últimos anos e que a tendência de algumas profissões é o desaparecimento. Isso não vai chegar apenas para as profissões que demandam menos anos de ensino formal, pelo contrário, o futuro vai ameaçar também profissões com elevado refino técnico. Cobradores de ônibus, frentistas, arquitetos, advogados e até mesmo algumas especialidades médicas, dentre tantas outras profissões, têm risco aumentado de desaparecer. Na contramão, novas profissões vão surgir. Assim tem sido a humanidade. Em tempos mais distantes, as carreiras militares eram as mais necessárias, pois vidas eram perdidas em série nos campos de batalha. Hoje, sem grandes guerras, os exércitos foram “reprofissionalizados”, a ponto de termos militares construindo estradas ao invés de estarem disparando fuzis.

            Na política, o principal ativo é o bom senso e, algumas vezes, ele é o maior inimigo do senso comum.  A opinião pública é um dos nossos instrumentos balizadores de ações. Porém, não deve ser o único. É preciso, muitas vezes, para fazer um trabalho com bases estruturantes, enfrentar o contrassenso das vaias de alguns pra fazer o que de fato é bom para a maioria. Vencer os interesses corporativos para ampliar benefícios públicos. Os coelhos da modernidade política (cada vez mais líquida), diferente dos que comem cenouras, hoje alimentam-se de holofotes. Quando surge uma pauta como a dos cobradores, muito mais do que jogar para a plateia, o fundamental é buscar entender os problemas de fato, conversar com todos os envolvidos e dimensionar os argumentos e recolocá-los como propostas de soluções.

            Hoje, temos uma cidade de 407 anos, com mais de um milhão de pessoas, 350 mil automóveis, 1200 ônibus em circulação, uma tarifa de integração de R$ 3,40 (que sustenta a gratuidade para 1 de cada 3 usuários), vias públicas malconservadas, transporte alternativo sem fiscalização, fraudes na emissão e utilização de cartões de transporte, empresas de ônibus operando no vermelho e, mesmo assim, a classe política opta por duas posições apenas: a lentidão das tartarugas, quase omissiva ou a completa afobação de alguns coelhos, na ânsia de garantir espaço nas mídias a fórcipe defendendo empregos que inevitavelmente irão ser reduzidos, sem analisar a fundo a situação de colapso do sistema.

            Sistemas de transporte de qualidade custam dinheiro, muito dinheiro. Ou você racionaliza o sistema, mexendo nos custos operacionais ou você aumenta a receita com tarifa mais alta ou a prefeitura concede subsídio às empresas. Qualquer outra fórmula é retórica e a retórica desacompanhada de soluções é geralmente catastrófica, porque atrasa o horário de tomar o remédio. A Prefeitura de Curitiba destina 90 milhões por ano às empresas. São Paulo injeta 2 bilhões por ano… vejam vocês: 2 bilhões por ano ao sistema de transporte público.  Se a tarifa em São Paulo não fosse subsidiada, custaria R$ 7,00 reais ao invés de R$ 4,30. São Luís, no curto prazo, não conseguirá aportar subsídios ao sistema. Como sei?  Uma rápida consulta ao site da Secretaria de Tesouro Nacional mostra que a nota CAPAG de São Luís (indicador da liquidez financeira e capacidade de pagamentos) é “C”, a pior possível.

            Com a queda das transferências obrigatórias por conta da crise e a retração da atividade econômica local, nossa prefeitura faz contorcionismo para pagar os salários em dia, mas se mantivermos essa sina de arrecadar pouco e investir quase nada na cidade, corremos o risco do colapso completo, atraso de salários e amplificação da crise. E aumentar as tarifas? Nem o próprio Sindicato das Empresas de Transporte deseja isso. Desde a licitação, a receita do sistema já caiu 21%. São menos passageiros nos coletivos, desde o surgimento de UBER e similares, além do crescimento desenfreado dos transportes alternativos e piratas.  Se menos pessoas andam de ônibus com tarifa de R$ 3,40, imagine o esvaziamento se elevássemos pra 4 reais? Haveria mais fuga de passageiros e as empresas antecipariam a quebradeira. Resta ao empresariado, para manter o negócio vivo, garantindo a maioria dos empregos, apenas a busca por formas de reduzir custos e a redução do número de cobradores é , infelizmente, uma dessas medidas.

Se a retirada de 500 profissionais da função de cobradores é ruim, a quem interessa a falência das empresas de ônibus, que jogaria não apenas 500, mas 7500 profissionais nas trincheiras do desemprego? Se os coelhos não cabem neste momento em que a lucidez é fundamental, também não nos servem as tartarugas, pois em tempos difíceis, as atitudes firmes e ágeis também se fazem cada vez mais necessárias.

Três cenários para o Maranhão

Quinze anos de medicina me ensinaram que o bom médico exercita o raciocínio clínico. Diante de uma doença de difícil reconhecimento, procuramos buscar pistas no organismo do paciente para chegarmos, a partir dali, a um diagnóstico bem-sucedido. O bom político, assim como o bom médico, deve ser também um estudioso, mas da observação dos movimentos da sociedade, das tendências de comportamento coletivo e das oportunidades de ocupar espaços.

Com a vitória maiúscula do grupo que conduziu o governador Flávio Dino à reeleição, já se projeta para 2022 um cenário em que não se visualiza a ressurreição dos velhos atores da oligarquia Sarney e seus consortes no estado. As previsões mais realistas sobre quem governará o Maranhão daqui a quatro anos pautam-se na participação direta de 3 atores da política maranhense: dois deles, Weverton e Brandão, saíram fortalecidos diretamente das urnas e são sucessores com vocação natural à cadeira dos Leões. O terceiro, mais recentemente, tem-se destacado pelo papel de conciliador e pelo trânsito em todos os poderes constituídos no estado, além da grande influência junto aos 41 deputados estaduais do Maranhão. Seu nome? Othelino Neto.

Em que pesem as diferenças entre os três políticos, todos têm um traço em comum: a necessidade de definição do destino de Flávio Dino. Se conseguir viabilizar-se candidato competitivo e necessário das esquerdas à Presidência, que é a condição primordial para que encampe a batalha rumo ao Planalto, Dino criará as condições objetivas perfeitas para abrir 3 vagas de disputa majoritária aqui no Maranhão: governador, vice e senador. Se Dino não conseguir viabilidade, “restar-lhe-á” a honrosa vaga de senador da chapa, permitindo-lhe conquistar, agora mais fortalecido, o protagonismo político em Brasília e manter vivo seu sonho presidencial, adiado para 2026. Este é o nosso primeiro cenário e, nele, Flávio precisará conduzir o processo local e operar o milagre de convencer um destes homens a abrirem mão de suas pretensões: o primeiro é Brandão, que será governador por 9 meses e poderá disputar a reeleição; o segundo é um senador da República, eleito com 2 milhões de votos, amplamente articulado no estado e que reúne condições ideais para ser um fenômeno nas urnas da próxima eleição. O fato é que se Dino falhar e não houver uma ampla pactuação dentro do grupo, abre-se a possibilidade de enfrentamento entre Brandão e Weverton, sendo Othelino um provável fiel da balança para o cargo de vice-governador. Falarei agora sobre este segundo cenário.

Com Brandão à frente do governo, definido como candidato à reeleição e Weverton irredutível quanto à sua posição de concorrer, sabemos que de plano haverá adesão do DEM à chapa do líder maior do PDT. Primeiro, porque a relação de Weverton com Juscelino Filho hoje é a melhor possível no plano local. Segundo, porque é inegável o interesse do 1º suplente Robert Bringel (DEM), tio de Juscelino, em assumir a vaga de Weverton em definitivo a partir de 2023.

Em relação ao PSDB, partido que Brandão comandou no Estado por muitos anos, é provável que este lhe dê apoio, o que garantiria inclusive a Roberto Rocha a sobrevivência política no Estado após o término de seu mandato de senador. Alguns analistas da política local já externaram sua posição, de que a balança penderá ao final para Brandão por conta de “deter a chave do cofre do estado” por 9 meses. O acompanhamento realista e desapaixonado da realidade recente tem nos mostrado que a situação financeira do estado é difícil, muito mais complexa do que nos anos em que Zé Reinaldo controlou o governo, investiu maciçamente nos municípios e depois disso, reelegeu-se e ainda fez o seu sucessor, o eterno Jackson Lago. A grande verdade é que ninguém pode duvidar da incrível capacidade de Weverton e do PDT de montarem em nível estadual a já conhecida “máquina de vencer eleições” do partido na capital maranhense.

Hoje, Brandão tem a preferência da maioria do secretariado dinista. Enquanto isso, Weverton tem a predileção de quase todos os deputados estaduais, vários federais, além de um respeitável batalhão de prefeitos. Vale ressaltar que colabora para o bom trânsito de Weverton no Poder do Rangedor o excelente relacionamento político e pessoal que o senador mantém com Othelino. Quem venceria este confronto? Quem viver, verá! Eu tenho o meu palpite.

O terceiro cenário, capaz de acalmar ânimos e pretensões dos dois lados, têm surgido a partir do que chamo de “liderança suave”. Falo aqui da possibilidade do presidente da Assembleia, Othelino Neto, ser o nome de consenso do grupo liderado hoje por Flávio Dino. De fala mansa, jeito discreto e investido de autoridade pelo espírito republicano que lhe tem conduzido desde que assumiu a Presidência, Othelino é elogiado de maneira recorrente por todos os deputados da casa, sejam da situação ou de oposição. Esses atributos garantiram-lhe uma reeleição fácil, inclusive antecipando o pleito do segundo biênio, onde foi aclamado novamente por unanimidade. Hoje, inegavelmente goza da confiança do governador do estado e do senador Weverton. Seu nome também aglutinaria vários setores do secretariado estadual. Seu grande desafio, neste momento, é transcender os muros do palácio Manuel Beckman e ganhar os quatro cantos do Maranhão, fortalecendo-se também a partir da condução política das eleições na Ilha e nas principais cidades do interior já em 2020.

Uma articulação com Flávio Dino presidente poderia ter Othelino como cabeça de chapa, Brandão como nome do grupo para o senado e Erlânio Xavier, homem de confiança de Weverton e presidente da FAMEM eleito com o apoio de 203 dos 217 prefeitos, como vice-governador. Neste cenário de consenso, Erlânio conduziria o processo político para 2026, onde aí sim, uma ampla articulação poderia eleger Weverton governador e Othelino como candidato de peso a uma das vagas de senador daqui a duas eleições. São muitas situações envolvidas e muitas articulações a serem feitas, mas o reconfortante é saber que este grupo, que tem buscado a superação dos problemas crônicos do Estado, tem muitas opções e que,  marchando unido, tem tudo para permanecer por um bom tempo no comando do MA, pensando- o no longo prazo. É um belo exercício de futurologia, mas a política é, assim como a matemática, feita de várias condicionantes, equações e números e tem no tempo o seu ativo mais precioso.