A grande farsa por trás da proposta da nova constituinte

Na última semana, causou surpresa e estranheza aos observadores sérios do Direito e aos agentes políticos positivamente comprometidos com a defesa da nossa Constituição de 88, a tentativa de anular parte do texto da Carta Magna, que de maneira muito acertada consagrou-se como a constituição cidadã, e substituí-la por um novo texto, numa nova constituinte.

A carta de 88 foi uma grande vitória da sociedade organizada, assentada em uma representatividade política que conservava ares de republicanismo, mesmo que em níveis variáveis, a depender do agente político envolvido. Tempos de grandes homens como Ulysses Guimarães. Escapes absolutistas foram devidamente controlados com a separação dos poderes, encontrando fácil guarida aqui por meio dos resultados da experiência francesa.

Com toda essa macro organização de poderes, surgiram estruturas inequivocamente úteis e fundamentais como funções essenciais à Justiça. A principal dessas estruturas é o Ministério Público. Com o Parquet definitivamente assentado em estrutura sólida e orçamento robusto, devidamente protegido pela égide do protecionismo constitucional, houve recentemente uma ofensiva à classe política que alcançou papel destacado na mídia. Nem todo político é republicano e ético, porém tratamos aqui de representantes do povo, que mesmo quando apresentam evidências adequadas de inocência, são tratadas por alguns membros do MP como réus confessos de delitos os mais complexos possíveis.

Na política, a garantia da presunção de inocência assegurada pela CF tem-se transformado muito rapidamente em presunção de culpa. É preocupante que uma parte dessa elite de agentes públicos, aprovados mediante concurso de provas e títulos, estáveis,  possam de maneira algumas vezes desarrazoada destruir reputações de agente políticos eleitos pelo povo. Casos extremos, como a sanha persecutória de Deltan Dallagnol em Curitiba, que combinava sentenças com magistrados, ou mais emblemático ainda o caso de Rodrigo Janot, que admitiu a tentativa não-concretizada de assassinar um ministro do STF e em seguida pôr fim à própria vida.

A que ponto as coisas chegaram! Há de se atentar para isso! Infelizmente! Talvez chegue o dia em que avaliações psicológicas sejam necessárias para essas  pessoas que desempenham grandes missões, para que distúrbios psiquiátricos como o narcisismo patológico e a esquizofrenia não se confundam com espírito público.

O lava-jatismo que surgiu pujante a partir do MPF de Curitiba e ganhou ares de Liga da Justiça da DC Comics obteve avanços inegáveis do ponto de vista da celeridade processual e da recuperação de ativos estatais, porém isso veio à custa de retrocessos inegáveis no campo do garantismo constitucional… A prosseguir nesta toada, viveremos o próximo passo será criar uma estrutura prisional nos moldes de Guantánamo, onde os direitos dos presos são constantemente relativizados.

A quem serve essa situação? A quem serve essa busca por hegemonia de setores do MP e Judiciário, colocados como estandartes desse movimento de criminalização da política? A quem serve “vender” para milhões de pessoas no país que o Brasil só prosperará sem políticos e  com demonização ampla e irrestrita de todos esses agentes, não escapando mesmo os mais éticos?

Agora, a luta dos lava-jatistas, pautada na mais assombrosa desfaçatez, é a de garantir a prisão em segunda instância no ordenamento constitucional. Às favas com os escrúpulos para esses sacripantas! O artigo 60 da Constituição diz muito claramente que as garantias individuais, a forma federativa, o voto secreto e a separação dos poderes são itens imutáveis, as chamadas cláusulas pétreas. “Esquecem” descaradamente que a constituição é do modelo semirrígida, mutável, à exceção desses quatro pontos. Na impossibilidade de mudar o entendimento constitucional do artigo 5º, pelo fato da presunção de inocência ser uma garantia individual, eles tentam mudar agora os arts. 102 e 105, onde se tratam de recursos especial e extraordinário, transformando-os em ações autônomas  e legando ao acórdão do colegiado dos TJs o conceito de trânsito em julgado. Esquecem-se os incautos e os canalhas que a liberdade é o mais inegociável dos bens da existência humana. Esquecem-se que o núcleo essencial do conceito de um recurso é a possibilidade de reverter uma sentença a partir de um escalonamento de tribunais cada vez mais qualificados e com funções específicas. Esquecem de dizer para a população de maneira cínica que a imensa maioria das ações não sobem para as 3ª e 4ª instâncias. Criaram Fake News pra dizer que 190 mil seriam liberados, criaram que Nardoni e Richthofen seriam soltos com essa decisão do Supremo… mentiras são propagadas na velocidade da luz pra atingir objetivos. Vergonha!

Sabe qual a realidade? No fundo, o que eles querem não é prender Lula novamente, pois com essa nova PEC de segunda instância, ele indubitavelmente não seria atingido, graças à irretroatividade da lei penal em prejuízo do réu. O que a bancada governista quer, ao pautar essa nova constituinte, é constitucionalizar no nascedouro aberrações como um SUS cada vez menos universal, uma desvinculação de receitas que desobrigue gastos mínimos em Saúde e Educação. Colocar no nascedouro de uma nova Carta Magna um orçamento que não esteja obrigado a reduzir desigualdades, fadado à concentração de mais riqueza na mão dos mais ricos e sentença de morte aos nossos cidadãos e cidadãs, cada vez mais à míngua do poder público. Uma Constituição dos banqueiros e demais rentistas… Não passarão!

O que São Luís espera do próximo prefeito?

Durante muito tempo, São Luís tem escolhido seus gestores pela marca do carisma. Os planos de governo durante as campanhas são muitas vezes maquiagens de promessas que nunca serão cumpridas. O resultado inequívoco de tantas piruetas de marketing muitas vezes é a decepção da população, que tem prazos variáveis para ocorrer. De seis meses de governo a um período de oito anos, a verdade é que a prefeitura de São Luís tem sepultado muitos gestores, ao término do mandato. A única exceção a esse mantra talvez tenha sido o Dr. Jackson Lago.

Nossa Ilha é indiscutivelmente rebelde e essa rebeldia da capital costuma culminar, no período eleitoral, com a busca de perfis políticos que representem a ruptura com a ordem política instaurada. Isso obviamente tem consequências boas e ruins. As boas estão ligadas à possibilidade de ruptura com gestões inegavelmente fracas e a possibilidade de oxigenação do processo. Várias vezes as máquinas dos Leões e do La Ravardière foram vencidas, mostrando que o povo de São Luís sabe ser, a seu modo e a seu tempo, soberano; as ruins estão relacionadas à possibilidade de candidatos vazios, maquiados com as tintas do bom-mocismo e das críticas ácidas à política, terem oportunidade de ascender politicamente e, quem sabe, até vencer um pleito.

Estamos em um período de pré-campanha, onde geralmente os postulantes colocam seus nomes na discussão e trabalham, nos bastidores, para viabilizar um projeto de grupo político e partidário. Alguns tentam fugir da regra e se apresentam como apolíticos, inovadores. Digo, sem medo de errar, que são charlatões. Charlatanismo é enganar, fingir-se possuidor de soluções mágicas que lhe conferirão poderes sobre-humanos, abusar da credulidade alheia. Na última eleição, um candidato que até então era um ilustre desconhecido na Ilha, apresentou-se como a novidade da política no estado. Vejam vocês: desde quando a transmissão hereditária de mandatos parlamentares é novidade no Maranhão? São os mistérios da vida…

Acontece que, desde a última eleição, três anos se passaram e o tal representante da nova política não apresentou qualquer discussão de relevância sobre a cidade que quer ser prefeito e está aqui, a 11 meses do pleito, tentando ganhar o jogo sem colocar a chuteira e cair em campo. Só que 2020 não será 2016… O pleito do próximo ano, após dois mandatos de Edivaldo, colocará à prova perfis políticos muito diferentes de uma mesma geração. Os debates certamente não serão voos solo de um candidato desconhecido em cima de outros seis ou sete nomes. A população analisará biografias políticas e profissionais sim, mas muito mais do que isso, o momento exigirá de cada postulante profunda capacidade de validar os seus planos de governo.

Quando visitamos outras capitais, podemos observar que, mesmo com mudanças de gestões ou alternância de grupos políticos, as cidades seguem uma linha bem definida de desenvolvimento e de continuidade das políticas públicas. As cidades desenvolvidas compartilham a marca de gestores que não buscam, a cada quatro anos, a reinvenção da roda. Fundamental é o acerto na escolha do perfil do prefeito e isso só acontecerá com o debate sério no período da campanha. Troca-troca de fake news, baixarias nos canais profundos da internet, fábricas de memes, toda essa política de desinformação deve ser combatida e substituída pelo confronto de projetos e soluções para a cidade. É inadmissível que se construa um prefeito com base em ataques pessoais e baixarias de toda sorte.

São Luís espera que seu próximo prefeito seja um cidadão com espírito público elevado, capacidade técnica reconhecida e veia política aguçada. Alguém com disposição e coragem para enfrentar os problemas da cidade e avançar nas políticas públicas, com um planejamento claro do que vai ser feito em cada etapa dos 4 anos de gestão, com vistas a melhores indicadores sociais e econômicos, capazes de nos conduzir a um futuro de prosperidade. A população, que acorda cedo todos os dias, não aguenta mais morosidade, falta de transparência pública e desorganização administrativa. São Luís não é para amadores!!!

São Luís não é para amadores

Na última semana, causou surpresa à população de São Luís a interdição de todo terminal da Praia Grande, que se transformou (logo após chiadeira geral de usuários e empresários) no fechamento de apenas duas plataformas do referido terminal…a mim, o infortúnio não causou qualquer surpresa. Em 12 de junho de 2019, protocolei indicação à Prefeitura de São Luís e ao Sindicato de Empresas de Transporte (SET), após receber laudo de engenharia condenando a estrutura do terminal. A verdade é que há uma falha evidente na relação entre Prefeitura de São Luís e SET. O custeio da reforma da estrutura do terminal e a assunção dessa responsabilidade têm sido o centro do litígio na justiça estadual entre o Palácio de La Ravardière e o empresariado do transporte. No meio do conflito, vidas humanas que custeiam um sistema de transporte sucateado, que periclita a vida dos usuários.

Criou-se a falsa premissa que fazer política de mobilidade urbana em São Luís é substituir frota de ônibus velho por veículos com ar-condicionado. Misto de engano com propaganda ruim. Política de mobilidade urbana é pensar a cidade de modo que o cidadão consiga chegar em seu trabalho, em sua casa, que os estudantes vão e voltem para a escola num espaço de tempo menor possível, com um trânsito de veículos e pessoas que seja humanizado e sustentável. São Luís não conseguiu traçar um caminho mínimo em direção a uma política de transporte que integre modais, que divida adequadamente o fluxo, que conscientize motoristas e pedestres.

Perceberam que esqueci dos ciclistas? Pois é, foi intencional… não temos qualquer tipo de política para bicicletas em uma capital com mais de 1 milhão de habitantes. Sabe por quê? Porque paramos no tempo, preocupados apenas com ar-condicionado nos ônibus, asfaltamento de péssima qualidade e tapa-buracos. É muito pouco para uma cidade com orçamento de 3,1 bilhões de reais. Para que se tenha ideia, é um orçamento discretamente superior ao de Teresina (3 bilhões), porém na capital vizinha foram destinados cerca de 700 milhões de reais em investimentos (mais de 20% do orçamento). Convido qualquer um dos leitores a conhecerem a capital do Piauí e verificarem que paramos no tempo em termos de modelo de cidade. Alguém poderia dizer: “ah, mas Teresina foi planejada!”. Verdade que foi planejada, mas a grande diferença entre a capital vizinha e a nossa cidade é justamente a fortunada sequência de gestões municipais com espírito desenvolvimentista, isto é: prefeitos em sequência que quiseram trabalhar de fato e estavam preparados para isso.

Respeito muito a figura do prefeito, amigo querido, homem de bem, mas silenciar neste momento não é opção. Edivaldo marcou um “gol de placa” quando conseguiu viabilizar cerca de 250 milhões de reais em empréstimos para investimentos, especialmente em infraestrutura: asfalto, reforma de praças e mercados, dentre outros. Erra de maneira retumbante ao não apresentar de maneira transparente e objetiva o plano de aplicação desses recursos. A cidade precisa saber claramente para onde vai cada centavo desses empréstimos e qual o cronograma de execução. A gestão nanica da SEMOSP dos últimos anos será agora testada. Sinceramente, não creio que o atual titular da pasta seja o homem para conduzir um programa de tal magnitude. O legado de Edivaldo, que deve definir os próximos anos de sua vida pública, está diretamente relacionado ao resultado positivo e impactante do “São Luís em Obras” … é a bala de prata do prefeito.  Diante disso, o momento é de profissionalizar a máquina pública!

Voltando ao problema do sistema de ônibus, há uma bomba-relógio em breve para ser detonada. As empresas perderam mais de 21% da venda de passagens mensal desde o início da licitação. Os motivos? Aplicativos como Uber e 99, sem esquecer do grande vilão do transporte público: a informalidade. Nesse quesito, a Prefeitura tem sido extremamente ineficiente na tentativa de combate-lo. O SET também precisa melhorar a gestão das empresas consorciadas. Os curtos/médios prazos imporão desafios decorrentes da própria mudança de modelo, já datado: redução de cobradores, quem sabe até a substituição total deles. Em meio a tudo isso, questões trabalhistas, econômicas e até humanitárias. Para solucionar os problemas, é preciso muito mais do que vontade dos gestores, necessita-se urgentemente de um plano de mobilidade urbana audacioso, com atores comprometidos e capazes de enfrentar os velhos paradigmas do transporte de São Luís. É preciso enfrentar as pressões políticas que querem criar e/ou manter linhas com baixíssima ocupação e que apenas geram prejuízos ao sistema; muito mais do que pequenos curativos, é fundamental o comprometimento com a solução sistêmica. São Luís pode e deve vencer o desafio de virar a página do transporte público ineficiente e desumanizado… é o que a cidade precisa e que o povo merece. Chega de amadorismo!  

Palhaçada assumida: militantes fakes como combustível da nova política

Dr. Yglésio

Médico, professor e deputado estadual

As coisas andam estranhas nas redes sociais… formalizei recentemente no meu Instagram um recado com o intuito de checar se de fato algum deputado recorreria de maneira reiterada ao expediente de fakes e robôs para atuar constrangendo parlamentares durante votações na Assembleia. Foi uma “isca”, de fato, jogada por mim, levantada com base em conversas em rodas de deputados na Assembleia, que estavam desacostumados (até esta legislatura, pelo menos) com esta prática.

Com grande surpresa e imensa tristeza, recebi esclarecimentos (via blog) de um deputado que já foi inclusive meu colega de trabalho, vestindo a carapuça sobre a minha fala no Instagram. Fato que o recado surtiu um triplo efeito: primeiro, um parlamentar sentiu-se afetado, tendo em vista que, mesmo sem ser citado nominalmente, optou por responder-me diretamente em blogs. Uma análise inicial poderia-me levar a afirmar que ele “mordeu a isca”. Quiçá! quiçá! Segundo, porque milagrosamente os ataques virtuais na minha rede social cessaram! Como por passe de mágica!

Diante das evidências, é com pesar que me sinto impelido a concluir que de fato há um parlamentar na Assembleia Legislativa que se utiliza de expedientes não-republicanos nas redes sociais, com milícia virtual constituída, atacando deputados de modo a tentar exercer pressão para lograr êxito em suas pretensões legislativas e eleitorais. Que decepção! O Parlamento se diminui quando sobejam essas futricas! Especialmente quando se recorre amiúde a estratagemas que representam infrações éticas previstas nos incisos II, V e IX do artigo 12 do Código de Ética da Assembleia, passíveis de perda do mandato parlamentar, como bem mostra o artigo 21 deste mesmo compêndio.

Terceiro, na resposta enviada aos referidos blogs, o parlamentar em nenhum momento da sua missiva negou a minha acusação apócrifa, de que haveria realmente uma milícia orquestrada de perfis fakes nas redes sociais, ao contrário. A resposta foi baseada em desinformação acompanhada de desinterpretação textual, onde o mesmo tentou atribuir a mim, de maneira subliminar, um suposto constrangimento ou animus de votar contra o projeto por mera conveniência. Jamais fiquei constrangido, ao contrário, o recado foi cristalino: nenhuma milícia virtual jamais irá me constranger.

Por fim, em relação ao referido projeto devo lembrar que essa discussão não é de agora, este projeto não é novidade, ele já vem sendo discutido na Casa há muitos anos. Como prova inconteste do meu inarredável interesse público, devo dizer que, ao contrário do parlamentar que se sentiu nominado sem sê-lo, eu fui o único deputado da base governista que puxou a dissidência contra o veto do governador ao projeto anticorte, de autoria inicial do deputado decano da oposição. Neste dia, causou-me estranheza a ausência do deputado consumerista na ALEMA. Penso que ele não deveria ter abandonado a causa do consumidor neste dia tão importante. Fico-me perguntando qual compromisso externo seria mais importante do que somar seu voto pela derrubada do veto ao meu, da deputada Andreia Rezende, deputado Ariston, César Pires (o autor original, agora copiado), Felipe dos Pneus, Neto Evangelista e Zé Inácio Lula.  Nossos votos a favor do projeto estão disponíveis nos anais da Casa e o meu pronunciamento disponível no Diário Oficial do dia 13/06/2019.

E por que votamos a favor do projeto? Naquela época, parecia que o STF caminhava para uma mudança de entendimento que reconhecia a lei como Direito do consumidor, mas atualmente (após dois julgados posteriores nas ADI’s 5610/BA e ADI 3866/MS), parece que a Suprema Corte retornou à interpretação de que a matéria trata sobre energia, conforme o artigo 22 inciso IV da Constituição, portanto demandaria uma lei federal e não estadual.

Já estão sendo tratadas em Brasília legislações positivas sobre energia elétrica, que respeitam a Constituição de maneira inequívoca, sem piruetas e parafusos jurídicos, dentre elas: leis que impedem cortes de energia em finais de semana e também a cobrança da taxa de religação. Espero que em breve estes dispositivos protejam os usuários de serviços públicos. Discordo do falso argumento propalado por alguns, de que é conveniente aprovar uma lei sabidamente inconstitucional, ciente de que logo em seguida a lei será derrubada, apenas para jogar para a plateia. Condutas assim são refutadas pela comunidade jurídica, geram instabilidade ao ordenamento legal e envergonham o Parlamento que escreve as leis perante à população.

Ao contrário de alguns que são “heróis” nas redes sociais, mas que se escondem durante as votações mais espinhosas, com medo de assumirem posições impopulares em plenário ou das pessoas que transferem para o governador a responsabilidade de vetar projetos inconstitucionais, governador este que lhes deu a oportunidade de ocupar um cargo eletivo, julgo oportuno publicizar a informação de que não tenho faltas injustificadas na Casa do Povo. Ressalto ainda que tenho participado ativamente e altivamente de TODAS as votações que presenciei, sem JAMAIS fugir de qualquer uma delas.

Encerro aqui minhas palavras, confiante de que a população saberá fazer o julgamento de quem realiza um trabalho sério em prol do estado. Lamentavelmente, algumas vezes existe um relativo desgaste na nossa prática parlamentar, gerado por patifarias de outrem, mas a firme missão maior de fazer um legislativo ético (e não épico), faz-me um homem confiante em meus ideais e ideias, já que jamais desejei ser super-herói e muito menos vilanizar quem quer que seja, especialmente meus colegas de Parlamento.

A política não deve ser feita pela porta dos “Fundos”

Sempre acreditei que esta geração política poderia romper o paradigma das bravatas, das discussões vazias e do oportunismo midiático. Na maioria dos dias, continuo a acreditar nessa ruptura, mas em alguns momentos, não consigo deixar de me decepcionar. Explico a seguir…

Esta semana, o Fundo Estadual de Combate ao Câncer (FECC) foi utilizado de maneira politiqueira pelo seu autor, hoje deputado federal, e seus prepostos na Assembleia Legislativa, como a solução do problema de subfinanciamento do Hospital Aldenora Bello, referência no tratamento de câncer no estado. O FECC é uma reserva financeira que o estado tem com os recursos do ICMS dos produtos do tabaco e das bebidas alcoólicas, com transferência de 3% a 5% do ICMS desses produtos para o fundo.

O FECC foi criado em 2011 através de uma Emenda Constitucional. Lamentavelmente, demoraram três longos anos para que se conseguisse regulamentar a lei e aí, mesmo com todo esse tempo para aprimorar o dispositivo, o autor errou a redação ao entrar em conflito com o texto constitucional que ele próprio escreveu, no que tange à finalidade do fundo, ao conselho consultivo e as próprias alíquotas de transferência. O autor da emenda constitucional não conseguiu ter entendimento consigo mesmo ao redigir a lei e por isso o dispositivo ficou mais de três anos no limbo, até ser regulamentada em 2017/2018.

Os “arautos da eloquência” da oposição querem atribuir aos recursos do Fundo a solução de todos os problemas que o Hospital Aldenora Bello tem. Quanta irresponsabilidade! Hoje, o Governo do Maranhão destina mais de R$ 150 milhões por ano em atendimento em oncologia, para toda a rede estadual. O Aldenora Bello recebe parte destes recursos, mas não existe atendimento oncológico apenas no Aldenora Bello. O Maranhão conta ainda com atendimento oncológico público no Hospital do Câncer; no Hospital São Rafael, em Imperatriz; no Hospital Aldenora Bello; no Hospital de Caxias e na Oncoradium, em Imperatriz.

Quando da criação do fundo, a finalidade principal era que ele servisse para financiar de ações de prevenção, tendo em vista que o montante dos recursos apurados anualmente giraria em torno de 4,5% do que o governo investe anualmente em ações curativas do câncer (mais de 150 milhões por ano). Um valor relativamente pequeno pro tamanho da confusão que os oportunistas têm alardeado. Voltando ao texto da emenda constitucional, utilizaram-se os termos “prevenção e combate”, porém em Medicina não existem ações de combate, existem ações preventivas, curativas e de reabilitação. O combate fica para a agenda política ou pior, quem sabe para um ringue de UFC…

Por que é fundamental que o FECC tenha seus recursos investidos em ações de prevenção? Porque o Maranhão ainda é um estado extremamente pobre, que precisa investir em informação para vencer o preconceito e o desconhecimento da doença. Por falar em desinformação, não posso deixar de destacar que é absurdo ver o autor da lei sendo o primeiro a promover desinformação ao vender a ideia de que Fundo Estadual de Combate ao Câncer pode resolver por completo o problema do Aldenora Bello. Bem aplicados, estes recursos possibilitarão investimentos em conscientização, em prevenção. Para que a Dona Maria, na Zona Rural de São Luís ou Sr. José, que mora lá em Satubinha, saibam que precisam ir aos hospitais em busca de exames que diagnostiquem precocemente a doença. É verdade que precisamos de mais recursos para ações curativas, mas não podemos esquecer da importância das ações preventivas para eliminar o câncer logo no seu estágio inicial, quando a chance de cura é muito maior.

Na luta contra o câncer, o que a gente espera dos nossos agentes públicos e nossos políticos é responsabilidade e não a politização de assuntos sensíveis. Então, qual o caminho? É fundamental discutir o Aldenora Bello sob a ótica do funcionamento, dos convênios, do teto operacional, de parcerias público-privadas. Com o firme propósito de colaborar nesta solução, apresentamos a “Lei de Incentivo à Saúde” que vai possibilitar que empresários invistam em ações e serviços de saúde sob compensação fiscal, como já acontece com a Cultura e o Esporte. Esperamos arrecadar até R$ 30 milhões por ano quando a lei estiver aplicada. Com a edição da Emenda Constitucional 95, a chamada “PEC da Morte”, que congelou os gastos públicos por 20 anos, é fundamental encontrar outros meios de financiamento para a saúde pública.

E o que deve ser feito com o Fundo Estadual de Combate ao Câncer? Primeiramente, é necessário ajustar o texto da Emenda Constitucional e da Lei Complementar que o criaram, corrigindo os erros para que ele jamais volte a ser picadeiro de oportunistas e que seus recursos sejam de fato utilizados da forma correta. O problema de financiamento da saúde deve ser enfrentado com responsabilidade e essa será nossa postura neste mandato na Assembleia Legislativa do Maranhão.

As estradas da vida

Na última sexta-feira, fui a um festejo em Independência, Peritoró. No caminho, faltando uns 15 minutos, já era noite e terminamos passando por cima de um buraco muito grande, que gerou imediatamente um impacto tão intenso a ponto de estourar o pneu traseiro direito em dois pontos. Poderíamos ter saído da pista ou ter um grave acidente, quem sabe até morrer.

A verdade é que dá vergonha da irresponsabilidade de certos agentes públicos com a conservação das estradas, mas este texto não é sobre estradas de asfalto, mas talvez seja sobre as estradas da vida… Dona Maria Dalva, essa senhorinha simpática da foto, é mãe de Sebastiana, uma paciente que operei há alguns anos e que havia sido vítima de uma lesão de via biliar durante uma cirurgia de vesícula. O quadro da Sebastiana quando foi transferida era bem grave. Lembro que quando a recebemos no Hospital Universitário, havia uma preocupação porque era uma paciente jovem e que teria uma qualidade de vida bastante impactada caso não desse certo a nossa tentativa. Deus sempre colocou a sua mão bondosa pra conduzir as minhas e tudo deu certo. Hoje, ela mora na Europa, casou e tem um filho.

No lugar da cicatriz da cirurgia, que era grande o bastante pra deixar uma mulher vaidosa envergonhada, ela desenhou em tatuagem uma linda rosa. Ela seguiu adiante… a vida nos dá essas oportunidades de reviravolta e essa é a beleza de toda a inquietude da existência: nós podemos superar nossas catástrofes e sorrir. Eu estava no palco e falaram meu nome no microfone, tive a oportunidade de fazer uma fala.

Eu não conhecia a dona Maria Dalva, mãe da Sebastiana. Ela me procurou ao descer…sorriu, se alegrou, agradeceu… e eu pensava “não quero chorar” então eu simplesmente sorria e a ouvia contar as histórias; dizia estar feliz pela vida da filha, por tudo ter se encaixado. Me agradeceu várias vezes… enquanto ela agradecia a um homem, eu agradecia ao Pai Celestial, pela oportunidade de salvar vidas no caminho que escolhi pra sempre, a medicina, mas também pela chance de reencontrar essas pessoas pelas estradas da vida, tortuosas, nos caminhos que a boa política abre todos os dias.

Sou grato por tudo que tenho e feliz por servir sempre!