Leia na íntegra a entrevista ao jornal “O Estado”

Em setembro do ano passado, O Estado informou que o senador Weverton Rocha rechaçou o seu nome como pré-candidato pela sigla por, aparentemente, o partido não abrir mão de sair com pré-candidatura de Osmar Filho (que depois não se confirmou). O senhor à época sentiu essa rejeição do partido? Como você se sente tendo sido preterido no PDT por Osmar Filho, que agora já não é mais pré-candidato?

Eu recebi com muita tranquilidade a opção inicial da cúpula do PDT pela então pré-candidatura do vereador Osmar Filho. O parlamentar municipal estava lá há mais tempo e alguns consideram que a política precisa respeitar “filas”; não considero esse mandamento absoluto, porém sei me posicionar em meio às preferências de outras pessoas e entender qual o momento certo de buscar outros ares. Foi isso que aconteceu e estou muito à vontade no PROS, sem qualquer sentimento negativo em relação aos companheiros do PDT.

O senhor já defendeu projetos de autoria da atual gestão estadual, como o PL nº 129, que tratou do polêmico empréstimo de R$ 623 milhões a ser contraído pelo Estado. E já fez críticas à gestão, como as recentes à direção da Secretaria de Segurança Pública. Esse tom de aparente neutralidade política pautará a sua pré-candidatura?

Não considero neutralidade, mas sim um sinal muito claro de independência parlamentar e coerência. O projeto do empréstimo não tinha qualquer tipo de polêmica, ao contrário, foi um bom projeto para o Estado, por garantir pagamento a centenas de funcionários públicos, pais e mães de família, que não vinham sendo pagos os precatórios de natureza alimentar, que são a imensa maioria. Importante assinalar que respeitou todo o regramento constitucional vigente no país. Quanto à atuação no caso recente da SSP, fica muito claro que o cumprimento do meu papel de Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Minorias foi exercido na sua integralidade, manifestando o necessário repúdio a uma prisão que não respeitou direitos e garantias constitucionais básicas. Creio que essa coerência no mandato de deputado é importante para quem deseja ser Chefe do Executivo Municipal.

Fala-se na montagem de um consórcio de candidatos cujas diretrizes são determinadas pelo Palácio dos Leões. O senhor integra este consórcio?

Na Assembleia, sou da base de apoio ao Governo do Estado. A expressão “consórcio de candidatos” tem um teor extremamente pejorativo e tem sido propagada pelo deputado federal derrotado nas eleições municipais de 2016 para desqualificar adversários, alguns mais qualificados do que ele inclusive, mas tal raciocínio não guarda qualquer conexão com a realidade. É a conhecida tática de desqualificar o emissor da mensagem já que o adversário não demonstra ter capacidade de desfazer os argumentos que lhe são contrários. O que de fato há é um imenso vácuo gerado pela não preparação de sucessor pelo grupo do prefeito de São Luís, o que favorece de maneira muito clara o aparecimento de novos líderes. Finalmente, ressalto que a minha atuação parlamentar responsável fala contra qualquer possibilidade de vir a compor uma estrutura semelhante a um “consórcio de candidatos”, em uma espécie de “jogo combinado”. Pelo contrário, sou do tipo que prefere entrar em “bolas divididas”.

A sua primeira aparição pública foi, enquanto diretor do Socorrão I, encabeçando uma campanha em prol de arrecadação de alimentos ao hospital. Depois disso, sua carreira alavancou. À época, sua iniciativa foi espontânea ou já mirava um projeto político?

Foi uma resposta exclusiva ao caos recebido nas contas públicas da Prefeitura de São Luís, gerida pelo ex-prefeito, ex-governador, já falecido. Não havia recursos em caixa disponíveis e não havia fornecedores dispostos a entregarem alimentos no hospital, em virtude dos atrasos de pagamento pela administração pública. É importante que se diga, porém, que a minha passagem no Socorrão foi mais representativa do que essa ação, deixei um legado. Na história do Hospital, nunca foi feito tanto em sete meses de gestão. Ampliamos serviços oferecidos, fizemos reformas estruturais que até hoje são reconhecidas pelos funcionários do Socorrão. Outras mudanças, no entanto, foram interrompidas por decisão política, mas à frente da Prefeitura de São Luís poderei continuar a história, as mudanças interrompidas.

A campanha deste ano, em virtude da pandemia, tem tudo para ser inédita na história política. Isso favorecerá, na sua opinião, os pré-candidatos que não contam com a estrutura de campanha dos grandes partidos?

Acredito que sim e que esse é um caminho sem volta. As campanhas na internet, especialmente nas grandes cidades, onde o acesso às redes de dados é mais facilitado, pulverizaram muito a influência dos grandes partidos e grandes tempos de TV. A construção de um canal de diálogo direto com o eleitor é algo muito mais forte que as velhas formas de fazer política.

Qual a sua opinião acerca da possibilidade de adiamento das eleições?

Acho que é uma possibilidade a ser considerada, mas creio que a decisão do Congresso Nacional a respeito só virá em julho, na primeira quinzena. A ressalva que faço é que deve ser pautada numa visão muito técnica da evolução da pandemia, sem qualquer pressão externa. Precisamos equilibrar de maneira muito racional a proteção da vida e da saúde com o processo democrático.

Como está a costura de suas alianças visando a sua pré-candidatura deste ano? Diante das indefinições do PT, o senhor considera a possibilidade de conversar com a sigla?

Seguimos dialogando com alguns partidos que não definiram ainda o posicionamento nas eleições, mas o nosso principal diálogo tem sido com a população através das redes sociais e da grande rede de apoiadores que construímos na eleição de deputado estadual e que ampliamos no mandato. É importante lembrar que foi essa base que nos colocou entre os deputados estaduais mais votados em São Luís, concorrendo com candidatos com muito mais estrutura. Quanto ao PT, o partido não faz parte do espectro de agremiações com as quais temos dialogado, em decorrência da própria dificuldade da sigla ter um dirigente que possa, de fato, conduzir o partido rumo aos fechamentos das conversas.

O senhor tem uma proximidade maior com as causas dos profissionais de saúde, que lideram neste momento o combate à pandemia. O que seu projeto de governo prevê para esta categoria?

Pelo fato de eu ser o único representante da área da saúde dentre todos os pré-candidatos, tenho condições de entender as dificuldades pelas quais os profissionais de saúde passam, mas isso não me faz relativizar a problemática; ao contrário, só aumenta a minha responsabilidade solidária de enxergar as categorias da saúde como parceiras na construção de um SUS mais forte dentro de São Luís. Nós só conseguiremos isto com um olhar cuidadoso para a valorização profissional, que passa por melhores salários, melhores condições de trabalho e formação continuada.

O senhor já esteve envolvido em polêmicas nas redes sociais. Em março por exemplo, o Sindicato dos Professores de São Luís repudiou declarações suas sobre a categoria. O senhor se arrepende destes fatos? Pretende moderar o tom nas futuras manifestações?

Acredito que houve uma incompreensão do referido Sindicato quando defendi a ideia de antecipação das férias escolares. A minha intenção era clara: encontrar um caminho para tentarmos reduzir as perdas dos alunos e pais no período da pandemia. Essa proposta foi muito bem recebida por pais, alunos, gestores de escolas e até mesmo por alguns professores. Várias instituições de ensino anteciparam as férias de julho e tenho a consciência tranquila de ter agido em prol do bom interesse da maior quantidade de pessoas possível. Numa democracia, quase nunca conseguimos agradar todo mundo, mas temos o dever de ouvir os clamores de todos. Nesse processo de discussão, fui atacado por alguns professores e cheguei até a revidar proporcionalmente, mas preciso deixar claro que em momento algum generalizei crítica à classe dos professores, até porque sou professor universitário também. De toda forma, o fato de eu ter respondido às agressões injustas de alguns poucos abriu o meu flanco para essas críticas pontuais, tão normais em um Estado Democrático de Direito. Não poderia falar em arrependimentos nesta condução. Prefiro falar em aprendizados e neste período eles foram muitos. Estou em constante aprimoramento da minha forma de me comunicar.

O senhor se sente incluído no que se intitula atualmente de “nova política”? Se sim, como montará sua futura equipe de governo priorizando competências em detrimento de possíveis indicações políticas?

Considero-me ainda um jovem dentro da política, mas tendo a rechaçar esse tipo de rótulo porque a construção de uma atuação responsável de um gestor municipal passa por um amplo diálogo com muitos dos atores do processo e não permite segregações do tipo: “Ah, este é um velho político e com ele não irei dialogar”, “Fulano tem seus métodos ultrapassados e não pode somar com nosso projeto”. Em nenhum momento penso em adotar purismos ou perseguições a quem quer que seja; acredito que dialogar com todas as correntes ideológicas seja importante para a edificação de propostas amplas. E da mesma forma não submeterei a população a mais quatro anos de acomodação de partidos na máquina pública, sem qualquer comprovação de competência técnica. Ao final dos próximos 4 anos, a população precisa enxergar no seu entorno uma Prefeitura humanizada, que conseguiu entregar mais do que obras de asfalto, concreto ou iluminação de LED. Quero ser lembrado como um prefeito que entregou, sim, uma gestão moderna, de indicadores, mas que se preocupou mais ainda com uma educação afetiva, com tratamento hospitalar humanizado, com áreas de vivência que gerem de qualidade de vida e que a resultante de todas essas ações seja uma cidade que recupere nosso orgulho de viver aqui.

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