Quatro contos do bom jornalismo

Conto 1: O primeiro encontro ou “O homem justo”.

O ano era 2013. Eu havia iniciado a direção do Socorrão 1 de maneira bem pouco convencional, imaginem vocês: eu, um jovem médico fazendo campanha de arrecadação de alimentos numa prefeitura que passava por dificuldades financeiras pro principal hospital de urgência do estado. Muita gente me criticou, mas um certo jornalista me deu a oportunidade de ir ao seu programa na rádio para esclarecer os meus motivos. Foi minha primeira grande entrevista na rádio, afinal ele era considerado na época o âncora do programa de maior audiência da AM. Foi direto, gentilmente provocativo, mas compassivo. Ao final, agradeci e nos despedimos. A despeito da linha editorial do sistema ser antagônica à prefeitura, ele me deu espaço que precisei e foi ético e justo.

Conto 2: A injustiça reparada ou “O homem humilde”.

O ano era 2019. Eu, já deputado de primeiro mandato, em uma discussão com um deputado de oposição, que era muito amigo de um certo jornalista, me ofendeu e mesmo assim tentou me culpar pela discussão. A assessoria do deputado mandou para esse jornalista, com requintes de política distorcida, apenas a versão do deputado de oposição. Esse jornalista, que sempre foi um homem leal aos seus amigos, não hesitou em me criticar no outro dia no principal jornal do estado. Me senti incomodado e pelo respeito que tive por ele desde 2013, entrei em contato e mandei a filmagem completa. Ele não hesitou em reparar no dia seguinte, com o mesmo tempo dedicado à notícia negativa que deu por engano, a matéria: “erramos e lamentamos, pedimos desculpa ao deputado”, disse ele. Me senti aliviado, honrado e esperançoso por saber que o melhor homem estava à frente do principal programa de política da TV.

Conto 3: A esperança no homem ou ” O homem ético “

Dois mil e vinte: o ano da pandemia. Ninguém imaginava ali em fevereiro que a crise da saúde seria tão intensa como está sendo agora. Eu mesmo achava que seria menos grave, mas ainda acredito que venceremos. Eu ainda pensava em aumentar naquele momento a minha presença em veículos de comunicação de maior expressão, visando massificar a imagem, afinal eu tinha em mãos uma pesquisa que me dizia que menos da metade da população ou não me conhecia ou apenas tinha ouvido falar. Chamei esse jornalista para uma conversa. Ofereci-lhe uma proposta financeira digna, republicana. Ele ficou duas horas conversando comigo me explicando o caminho das pedras. Ao final da conversa, perguntei a ele: – por quanto você me faz essa consultoria? preciso de você.
Ele, sempre gentil e verdadeiro como desde 2013 eu já sabia, foi curto e gentil: – Dr., sempre que suas pautas forem boas, eu te ajudarei a ter espaço pra divulgá-las. Não precisa me pagar nada. Confesso que ali tive esperança nas pessoas, mais do que já tenho. Minha fé foi recompensada e fiquei emocionado, pois quem é do meio sabe como as coisas dificilmente funcionam assim. De-lhe um abraço, agradeci umas 5 vezes, como um menino que recebe um presente do pai e ele se foi. Conversamos mais umas duas vezes depois pelo WhatsApp.

Conto 4: “O homem que lutou”

Vinha acompanhando as notícias dos colegas médicos e sabia que seria difícil a tua recuperação, Roberto; me falaram há dezessete dias que tinhas 83% de chances de não vencer a doença. Torci por todos esses 17 dias para que os 17% de chance vencessem. Fantasiei voltar no teu programa e dizer: – venceste todas as expectativas contrárias, meu velho… Fantasiei um abraço nosso…Pois é, não deu, amigo. Hoje, veio a notícia trágica. Você, que sempre informou todos nós tão bem, teve a divulgação da sua passagem completamente mal conduzida pelo hospital que te atendeu. Imagino a dor de seu Eurico, de Romualdo e de toda a família.

Se pra eles será difícil viver sem tua presença aqui, será mais duro ainda para o jornalismo sem você. São muitos os barcos em meio ao mar, mas são poucos os faróis para iluminar a imprensa. Que a tua luz seja lembrada e jamais se apague.

Com respeito e resignação,

Yglésio