Plástica genital feminina, mitos e verdades

Bem, a primeira coisa é saber se a cirurgia é estética ou se tem uma finalidade reparadora. Quando se fala em finalidade reparadora, tratamos de situações que são bem incomuns e que logo num primeiro momento saltam aos olhos, uma bem comum é a diferença de tamanho entre os pequenos lábios, um de tamanho normal e outro bem grande, como se fosse uma lingueta. É claro que isso fica muito evidente isso e que a mulher pode ficar incomodada.

Outra situação (já no caso do homem) é a da fimose, que é o excesso de pele que pode impedir inclusive a glande (cabeça) de se exteriorizar, causando muita dor durante o ato sexual, além de problemas associados, como micoses etc. Nesses casos, tratam-se de cirurgias reparadoras.

No caso de cirurgias estéticas, na mulher a gente tem um número enorme de procedimentos possíveis de serem realizados, desde injeção de gordura na região genital pra aumentar grandes lábios (ajeitar o que chamam popularmente de “xiri seco”) , redução de pequenos lábios (diminuindo a chamada “lingueta”), retirada de prepúcio clitoriano (tirar a belezinha que fica por cima ali do popular “pinguelo” ou “grelo”) com a finalidade de aumentar o prazer, além da antiga e conhecida himenoplastia, que é basicamente tornar a paciente “virgem” novamente. Tem até cirurgia que promete aumentar a ativação do lendário “ponto G”, mas aí no caso não é uma cirurgia estética, mas sim funcional, apesar dos resultados controversos, há quem faça por aí. No homem, as cirurgias estéticas genitais consistem em aumentar o pênis e/ou engrossá-lo e também a cirurgia de redução de tamanho da bolsa testicular (o popular “saco”), além de próteses de testículo.

Em ambos os sexos, a grande motivação dessas cirurgias estéticas (não das reparadoras, que visam corrigir defeitos) é o ideário plantado pela pornografia. Com a massificação do acesso aos sites eróticos, seja pelo computador ou pelo celular, ficou mais fácil o acesso ao entretenimento adulto, que era bem mais caro e inacessível há dez, quinze anos atrás. Hoje as pessoas assistem com mais frequência esses filmes e têm acessos a “closes” ginecológicos em HD e até 4k. Corpos expostos em sua totalidade e intimidade vão causar fenômeno muito parecido com o que aconteceu nas décadas de 80, 90 e nos anos 2000 com a cirurgia plástica estética geral no caso de atores e atrizes da TV. Da mesma forma que se buscou o nariz ideal, a bochecha ideal, a boca ideal, tem muita gente que persegue agora a “peteca” perfeita e um pênis maior, a partir de um padrão ditada pela indústria pornográfica, que não cansa de crescer pelo mundo afora.

No meu modo de ver, estamos embarcando cada vez mais na vida que os outros querem que tenhamos do que propriamente na vida que podemos escolher viver. Guardadas as proporções, sujeitamo-nos ao risco de criar gerações de pessoas que tentaram enlatar a sua forma física, com o nariz da moda, a sobrancelha da moda, a vagina da moda, o “pinto” da moda, mas que imersos na incapacidade de lidar com as expectativas que nem sempre se completam ao término da cirurgia e nos meses que lhe sucedem o resultado, mantém as frustrações e vão, na contramão dos gastos com estética, acirrando seus desacertos interiores.

Defendo a autonomia de escolha de qualquer pessoa sobre o seu corpo, mas gosto de alertar quanto aos riscos de aderir a tratamentos em fase inicial, algumas vezes realizados por profissionais não devidamente qualificados, não apenas tecnicamente, porque acima da técnica deve prevalecer o lado humano da coisa. Quando falo em humano, não me refiro ser bonzinho ou algo do gênero, mas tão somente abrir os olhos dos pacientes para todas as possíveis adversidades do resultado e se realmente aquilo é algo que vai impactar positivamente sua vida.

O médico que lida com estética trata também de anseios, expectativas e dessa forma, deve ter um quê de psicólogo junto com ele, para não transformar seu tratamento atual em sofrimento futuro aos pacientes. Ninguém escreveu em um livro que a “xoxota” perfeita tem características tais, tais e tais. Ninguém colocou no manual que um ‘”pau” de 18cm é pior que um de 22cm. Quem tem ditado esse padronismo perverso é a indústria pornográfica, as revistas adultas e a Internet. Tudo isso é moda e como moda, hoje é legal e amanhã pode não ser. Pense nisso antes de tomar qualquer decisão, mas depois disso lembre-se: escolha. A escolha sempre será sua. Boa sorte!